Aquela voz, tão familiar aos lares brasileiros dos últimos 60 anos, se despediu silenciosamente.
São muitos os superlativos que aprendemos a atribuir em memória de Silvio Santos nos últimos dias, mas talvez o mais justo seja exatamente o mais singelo: o maior dos comunicadores brasileiros.
Muito ainda será analisado sobre o legado do camelô que ganhou o carinho de um país. Mas uma coisa já está bem ali, na memória de muitos brasileiros: Silvio Santos se tornou, ao longo de sua vida, um realizador de sonhos.
Até onde você seria capaz de persistir para realizar o sonho de outras pessoas? O seu sonho?
Essa voz aí é de um sergipano, que pedalou mais de 2.300 quilômetros, da pequena Nossa Senhora das Dores (SE) até São Paulo, em busca do sonho de conseguir uma foto e um autógrafo de seu maior ídolo.
Mario Benedito Pereira Lima trabalhava como office-boy e feirante, aos 21 anos, quando decidiu que nem a distância nem os poucos recursos poderiam impedi-lo de conhecer aquele parente distante, tão familiar pelas ondas da TV.
E olha: quase não deu certo, não. Não demorou muito até ele descobrir que os 12 dias planejados logo se tornariam 23.
Graças a um policial rodoviário, perto do já lendário Centro de Televisão da Anhanguera, Mario conseguiu apoio da imprensa, que fez a história chegar até Silvio Santos.
Sensibilizado, Silvio garantiu emprego e formação superior ao jovem sonhador. Hoje, Mario relembra com carinho o legado de um brasileiro.
O legado de Silvio atravessa gerações com as memórias de sua versatilidade como animador. Para muitos, um dos marcos do seu auge foi o quadro “Boa Noite, Cinderela”.
O programa fez sucesso nas décadas de 70 e 80, como uma competição para premiar qual menina se saía mais simpática na telinha.
Ketlin Rocco tinha apenas 3 anos, em 1985, quando se tornou uma das Cinderelas da atração. Ela se emociona ao lembrar como uma menina assustada pelo movimento dos bastidores da TV, foi acolhida pelo apresentador.
Saudosa, Ketlin relembra como sua família também fez parte de uma época em que as tardes de domingo eram ilustradas pelo principal comunicador do país.
Para a hoje publicitária, ser a Cinderela de Silvio Santos foi a forma de realizar o sonho de sua mãe.
Certamente ainda levará tempo até que nos acostumemos a passar os domingos sem ouvirmos “quanto vale o show?”; se “você topa ou não topa?”; se “você pode receber o ouro?”; “quem quer dinheiro?”; ou, afinal, “qual é a música?”.
Certo mesmo é o legado de alegria e da celebração da vida, com que fez questão de defender até mesmo em sua despedida.
Descanse em paz, Silvio Santos.
Fotografia: Alan Santos / Presidência da República
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