notícias

11 de abril de 2025

Elas na Ciência: mulheres vencem machismo e ampliam presença nos laboratórios

Em Campinas, escola de ciência do CNPEM alcança equilíbrio no número de pesquisadores e pesquisadoras docentes e discentes

ouça a notícia

Da alemã Caroline Herschel, a primeira mulher a descobrir um cometa; à física e química polonesa Marie Curie, pioneira no estudo da radiação e descobridora dos elementos Rádio e Polônio; a presença da mulher na pesquisa científica é uma trajetória longa e recheada de desafios, em um universo majoritariamente masculino.

É como uma grande caminhada…

Este é um dos motivos, por exemplo, que levaram a ONU a criar, em 2015, o Dia Internacional da Mulher e das Meninas na Ciência, celebrado todo 11 de fevereiro.

Mas a ciência de ponta, produzida bem aqui, na nossa região, evidencia como elas estão na vanguarda da pesquisa científica e tecnológica. Principalmente desde as salas de aula.

A nossa caminhada para compreender os desafios da mulher na ciência, nos leva a um elevador, em que a primeira parada é a graduação.

Instalada em Campinas desde 2021, a Ilum Escola de Ciência, ligada ao Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais, já pode ser vista como um símbolo da luta pela equidade entre homens e mulheres.

Dos 116 alunos, praticamente a metade – 49 delas – são mulheres, aprovadas em um processo seletivo baseado em currículo e entrevistas.

Uma delas é a sergipana Júlia Amâncio Ferreira, que não esconde um grande sorriso ao contar sua grande inspiração é a cientista Jaqueline Góes, pesquisadora da Universidade Federal da Bahia, que liderou a equipe responsável pelo sequenciamento do genoma do vírus responsável pela covid-19, em 2020.

No terceiro e último ano do Bacharelado em Ciência e Tecnologia da Escola Ilum, Alice já desenvolve o seu Trabalho de Conclusão de Curso: uma pesquisa baseada em bioinformática, que vai estudar a relação entre a atividade do útero e a influência na saúde mental da mulher.

Alice se orgulha já se sentir parte de uma posição de protagonismo dentro do laboratório.

Amanhã, na segunda parte da reportagem especial: você vai conferir histórias de mulheres que fazem a diferença na pesquisa científica.

Entrar na sede da Ilum Escola de Ciência, no Parque das Universidades em Campinas, é ter o melhor atestado de que é possível, sim, criar um ambiente equânime entre homens e mulheres na ciência.

A instituição, mantida pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, alcançou em 2025 um equilíbrio que já é como um título para a escola: elas já são 43% dos estudantes.

Números que refletem uma realidade que caminhos a passos lentos no cenário nacional. Segundo o levantamento “Andocentrismo no Campo Científico”, de 2023, da Academia Brasileira de Ciências, as mulheres respondem por 58% das bolsas de pós-graduação financiadas pela Capes, o principal órgão de fomento à pesquisa do Brasil, ligado ao Ministério da Educação.

O mesmo se confirma pela leitura dos segmentos: entre os estudantes de Mestrado, elas são 57%; e de Doutorado, 54%. 

Pelas salas de aula envidraçadas, é possível ter uma plena noção do que estamos falando. Equilíbrio que se confirma na distribuição entre alunos e alunas nas carteiras.

E é nas mesas geminadas, de uso coletivo, terminando uma prova, que conhecemos a estudante mineira Giovana Martins Coelho, do 3º semestre da Ilum.

A jovem relembra que precisou vencer muita desconfiança e comentários misóginos para chegar à faculdade ligada ao principal centro de pesquisa científica do Brasil.

Os desafios vividos pela jovem cientista são compreendidos e orientados por quem já está há mais tempo nessa caminhada. Doutora em Genética e Biologia Molecular pela Unicamp e pós-doutora pelo CNPEM e pela Universidade da Califórnia, Juliana Smetana lamenta constatar que o machismo estrutural é uma realidade nos centros de pesquisa pelo mundo afora.

No corpo docente da Ilum Escola de Ciência, o equilíbrio entre homens e mulheres também se faz presente. Hoje, dos 13 titulares, cinco são mulheres.

Embora não adotadas na seleção de estudantes e na contratação para a instituição, as ações afirmativas são ferramentas muito importantes para reconhecer e corrigir a disparidade entre homens e mulheres na ciência. É o que defende a professora Juliana.

Para a Giovana, que já venceu o desafio de subir o primeiro andar, do início na pesquisa científica, a prioridade agora é rumar em direção à ciência com propósito.

Que o elevador desse grande edifício, em que as mulheres assumem protagonismo da pesquisa científica, possa seguir ganhando novos andares, cada vez mais altos.

 

 

 

 

Fotografia: Reprodução / Ilum


Leia e ouça também:

Kevin Kamada

Kevin Kamada

Jornalista

Kevin Kamada

Kevin Kamada

Jornalista

Compartilhe essa matéria