Já são quase três dias de fumaça na Área de Preservação Ambiental “Serra dos Cocais”, entre Valinhos e Itatiba.
Os focos de fogo, que começaram na tarde do último sábado, 31, já devastaram uma área de aproximadamente um milhão de metros quadrados, e varrem a vida vegetal e animal da região, mas também ameaçam vidas humanas.
Ainda no sábado, um barraco de uma família do Acampamento “Marielle Vive”, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em Valinhos foi totalmente consumido pelo fogo. Outros barracos também foram parcialmente atingidos. Por sorte, ninguém se feriu.
O Acampamento, instalado há seis anos e quatro meses no local, abriga aproximadamente 300 famílias, é responsável por preservar boa parte da APA da região da Fazenda Eldorado, então considerada improdutiva em 2018, quando a comunidade se instalou no local.
E foi justamente um barraco do acampamento que protagonizou boa parte do incêndio iniciado no sábado passado. Marlene da Silva de Queiroz é uma das vizinhas do núcleo de base onde o fogo começou, e relata o desespero com o fogo.
O trabalho de combate às chamas durou quase seis horas e contou com a mobilização de moradores do Acampamento “Marielle Vive” – que precisaram usar as escassas reservas de água da comunidade – e de soldados do Corpo de Bombeiros.
Segundo a coordenação do Acampamento, a dimensão atingida pelas chamas sugere que o incêndio tenha sido criminoso.
Lairton Martins de Oliveira, que é responsável pela segurança e pela brigada voluntária de bombeiros do local, afirma que há fortes indícios de que o incêndio tenha sido criminoso. Ele relata a rotina de ameaças vivida pelos trabalhadores do local, em meio à pressão para que as famílias desocupem a Fazenda.
Mas o socorro ao fogo não foi pacífico. Moradores do Acampamento relatam truculência na conduta de policiais militares, acionado para dar suporte aos Bombeiros enquanto entravam no local.
Dentre as queixas estão as ameaças feitas na portaria do Acampamento, além dos relatos de conduta truculenta com quatro moradores que tentavam ajudar no combate ao incêndio. Lairton Oliveira explica.
Ainda segundo a coordenação do Acampamento, os quatro moradores passam bem.
Durante a visita da nossa reportagem, promotores do Ministério Público Estadual visitaram o Acampamento para averiguar a condição dos moradores depois do incêndio e levantar possíveis indícios de crime, mas eles não puderam falar com nossa equipe.
Em relação às denúncias de excesso policial, nós entramos em contato com a Secretaria Estadual de Segurança Pública. A pasta se manifestou por meio de nota, em que afirma que para que os bombeiros conseguissem atuar no local, foi necessário solicitar apoio da Força Tática, da RPM e demais viaturas. A nota afirma que denúncias de violência policial podem ser comunicadas à Corregedoria da instituição para que sejam adotadas medidas cabíveis.
Nós também procuramos a Defesa Civil de Valinhos para checar como fica a responsabilização pelos danos ambientais.
Marcos de Paula, que é diretor do departamento, explica que as equipes ainda trabalham no mapeamento do tamanho da área devastada, que é difícil em razão do relevo da APA “Serra dos Cocais”.
O chefe do setor afirma que vai procurar a Polícia Ambiental para que seja lavrada a autuação formal do proprietário do terreno.
Segundo estimativa da Defesa Civil de Valinhos e do Corpo de Bombeiros, o tamanho da área devastada pelo incêndio pode chegar a 1,5 milhão de metros quadrados.
Fotografia: Kevin Kamada
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